sexta-feira, 13 de novembro de 2009
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Gedeão da Frouxidão
Rocha Filosofal
Eles que não sobem não sonham
O que é esforçar-se na via
Não concreta e definida
Como outra via qualquer,
Como este granito cinzento
Em que ora subo, ora sento
Como esta calcite branca
De caprichosos torneados,
Como estes penhascos alados
Que em negro ruivo assomam,
Como estas rapinas que os tomam
Em brincadeiras de vertigem
Eles que não sobem não sonham
O que é grau, é chapa ou piton,
Tige forte ou perno bom
De aço A4 ou mero spit,
Do 8a+ ou da élite,
Numa eterna ascensão.
Eles que não sobem não sonham
Que é muro, é prumo, é buracos,
Diedro, fenda com tacos,
Bidedo, aplat, chorreira,
Crista, placa regleteira,
Pináculo dum esporão,
Contraforte, paredão,
Invertido, pinçamento,
Tendinite, dor e unguento,
Croqui, cordada, expresso,
Encadeamento, sucesso,
Que é filho de fracassos,
Vindos de sisal, arnês de laços,
Bota rígida do pioneiro,
Tentativa do primeiro,
Artificial, subprumo, atlético
em livre, sentido ético,
Encordamento, corrente,
De segundo, em top, à frente,
descensor, grigri, shunt,
mosquetão, fissura elegante,
pé-de-gato, queda, dinâmico
líquen de aroma balsâmico,
na superfície mineral
Eles que não sobem não sonham,
Que é o sonho que gera a via
que sempre que um homem sonha
o mundo estica e avança
como a corda colorida
entre as mãos de uma criança
Adaptação barrasca do poema Pedra Filosofal, In Movimento Perpétuo, 1956, de António Gedeão
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
A cana do frouxo
Meus senhores eu sou a cana!
Que alcança a tige e a plaquete
Que salva as calças de ser retrete
Que alcança longe e alcança perto
E dá triunfos a qualquer Alberto
Que aponta as presas de pé e as de mão
Que tanto ajuda a tanto cagão.
Meus senhores aqui está a cana
Que é de alumínio ou de bambu
De fibra-de-vidro ou de pau cru
Que canta os passos à Maria e ao João
E salva o dia em qualquer situação
Que usa a menina e que usa o menino
Pois ir à frente revolve o intestino
Meus senhores aqui está a cana
Que segura a corda e o mosquetão
Que salva da queda e do trambolhão
Que desenvolve as artes e as manhas
E limpa as presas cheias de aranhas
Que protege vias curtas e de runouts largos
Que salva a malta dos voos amargos
Meus senhores aqui está a cana
Que põe em top quem vai a frente
Que desculpa o medroso do acidente
Que equipa as vias de alto a baixo
E revela o frouxo que se dizia macho
Que envergonha o roto e envergonha o nú
E empala a sério quando há excesso de mú
(Inspirado no poema "A água" de Manuel Maria Barbosa du Bocage)