terça-feira, 31 de outubro de 2006

a religião dos frouxos

Chuck Norris' dick is so big, it has it's own dick, and that dick is still bigger than yours*

Grande coisa. O El Carallon também tem uma pila própria. E dois testículos. Aliás, se não fosse essa segunda pila não sei como é que a malta fazia o passo. Eu bem vejo o pessoal a esticar-se, mãos nas invertidas, a subir os pés e a agarrar-se ao pequeno pirilau, exprimindo de seguida uma profunda sensação de alívio enquanto procedem ao agarre do carallon propriamente dito. Depois é vê-los a amarinhar por ali acima, visivelmente satisfeitos, abraçando fervorosamente o dito cujo em todo o seu esplendor. E um gajo fica a pensar como é bonita a obra de Deus. Sim, porque estou plenamente convencido que a escalada é obra divina. Já repararam como as presas das Buracas do Cagimil são ergonómicas? Mesmo à medida para serem agarradas. Bem sei que os geólogos hão-de ter uma explicação. Que a sedimentação isto e aquilo, patati patata. Mas eu não acredito nessas coisas. Deus dotou El Carallon de um segundo falo com o propósito claro de permitir a escalada daquela via. Ainda por cima o Senhor demonstra criatividade e sentido de humor, permitindo ainda que cada um de nós expresse a sua verdadeira natureza através da maneira mais ou menos entusiástica como se agarra ao supracitado badalo.
Noutro dia estava a escalar em solo uma via na rampa dos crocodilos - aquela onde penduraram uma corda com nós para ajudar o pessoal mais frouxo a subir. Quando parei para sacudir os braços e olhei para trás, reparei que há lá uma via com uma secção que não tem absolutamente nada para agarrar. Essa secção termina num enorme buraco para onde a malta lança a partir de duas presas, mais de um metro abaixo. Ou seja, Deus Todo-Poderoso criou aquele buraco de encomenda.
É por estes motivos que estou a pensar seriamente em fundar uma corrente religiosa (se disser “seita” parece que estou a querer gamar dinheiro ao pessoal - não que não seja verdade mas o segredo é a alma do negócio) que assenta no princípio de que a escalada é o reflexo da existência de Deus. Vou fundar um santuário bem na base do El Carallon, onde todos possamos contemplar o milagre. Será local de peregrinações cuja entrada (o dízimo) reverterá a meu favor com a desculpa de que é para equipar vias e substituir topes. Mas há mais. Vou convencer o pessoal de que o filho de Deus é Chris Sharma. Vou convidá-lo, a troco de uma mesada em erva, para andar a apregoar a fé entre os escaladores. Com aquelas rastas, o ar meio zen e meio desalojado e de flauta em punho, parece-me que a malta o vai seguir como ao flautista de Hamelin. Ele será o meu fiel apóstolo.

* Gamado daqui

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

é a cultura, frouxo!

Depois do meu último texto o meu e-mail foi inundado por centenas de missivas vindas de todos os cantos do planeta. Claro que a maior parte era a habitual publicidade às pílulas para alargar o nãoseiquê e para melhorar o desempenho no nãoseiquemais. O restante era pornografia não requisitada (e também alguma requisitada). Estranhamente, nenhum dos mails que recebi era relativo ao blog. Talvez seja por não ter publicado o endereço de e-mail no site… é capaz de ser por isso.
De qualquer das maneiras tenho a perfeita noção de que todos os que leram a minha posta anterior fizeram a mesma pergunta: “Mas afinal quem era esse Shakespeare?” Ora para elucidar as vossas mentes, e porque os escaladores não lêem nada que não sejam revistas de escalada (acabei de perder metade dos meus leitores) nem costumam ver filmes que não sejam sobre escalada (pronto, lá se vai a outra metade) resolvi tornar este blog um pouco mais cultural. O que se segue é um pequeno resumo de algumas obras que deixaram a sua marca na literatura ou no cinema.

Romeu e Julieta

Começamos com este clássico de Shakespeare que relata a história de dois grupos rivais que disputavam os encadeamentos mais duros na fenda: Os Capuleto e os Montesco. Sempre que um Capuleto equipava um oitavo, logo um Montesco o encadeava e descotava. E vice-versa. Um romance proibido nasce, no entanto, entre dois descandentes destas famílias rivais. Os amantes Romeu e Julieta, que fazem cordada (entre outras coisas mais ou menos badalhocas) e que juntos evoluem na escalada e no amor.
Um dia, Romeu parte uma presa que acerta em cheio na pinha de Tibaldo, primo de Julieta. Temendo envolverem-se num banho de sangue, os amantes elaboram um plano de fuga, mas tudo lhes corre mal. Julieta combina com Romeu na fenda e, enquanto espera, resolve solar a El Carallon. No entanto, no meio do desespero provocado pelo atraso injustificado do seu amante, esquece-se de levar os five.ten e cai na parte da placa porque o pé não ficou numa aderência. Romeu chega ao pé da sua amada, olha para os Quechua que ela tinha calçados e compreende de imediato o que se passou. Enrola um charro com haxe comprada no Martim Moniz e fuma até lhe saltarem os olhos. Mas vai-se a ver e a Julieta não estava morta, apenas tinha batido com a cabeça. Quando acorda e vê o seu amor, morto, com a beata ainda na ponta dos dedos, resolve matar-se também; ainda tentou fumar o resto do charro mas era só tabaco. Vai daí, pega na navalha que ele usava para cortar a corda e espeta-se com ela no coração. Por azar, a navalha era meia enferrujada e não cortava grande coisa mas a Julieta lá acaba por morrer de tétano.

Titanic

História de um bacano que aposta um bilhete de barco em como saca à vista uma via daquelas bem duras. O facto de o gajo ter lançado sem olhar para a presa escondida levanta grandes suspeitas, mas a verdade é que ele lá ganha a passagem para Kalymnos. Na viagem, conhece uma g’anda lasca (embora com tendência para engordar) que se quer atirar da popa (acho que a popa é a parte de trás do barco). Ele lá a agarra, convence-a que a vida vale a pena ser vivida, aquilo em Kalymnos é só chorreira, uma maravilha, toma lá uns five.ten, com isto ninguém te pára, tens é de fazer dieta que os pés de gato são bons mas não fazem milagres, bora lá cantar o “My Heart Will Go On” da Celine Dion na proa (que, portanto, será a parte da frente). Entretanto, a embarcação nunca há-de chegar a Kalymnos, pois choca com um iceberg que andava perdido mesmo no meio do Mediterrâneo. A gaja safa-se, o gajo quina.

O Padrinho

Filme sobre a família de Vito Corleone, um tipo que tem o monopólio dos rocódromos de Nova Iorque. Temido por uns e amado por outros, é a ele que os escaladores recorrem quando não sabem o que fazer. Para estes, sempre tem uma palavra amiga, umas dicas sobre como resolver o crux de uma via ou uma opinião sensata sobre uma cotação. Até que chega à cidade um turco que pede financiamento ao padrinho numas plaquetes inox para equipar umas placas que tinha micado nos arrabaldes da cidade. O padrinho recusa-se a ajudá-lo pois não quer ver as crianças do seu bairro a escalar em placa. Mas o filho, Sonny Corleone, mostra um certo interesse no negócio, pois tinha acabado de comprar uns five.ten e estava mortinho por curtir a aderência da cena no granito. Erro crasso, pois o turco tenta despachar Vito Corleone na esperança de negociar com o herdeiro directo, Sonny. No entanto, o esquema sai-lhe furado, pois o padrinho sobrevive. O esquema não é a única coisa a sair furada ao pobre turco: A implacável vingança de Michael Corleone, o benjamim da família, envolve um Hilti com uma broca de 10 mm, para granito, pronta a estrear.

Forrest Gump

História de um bacano que, apesar de ter uma inteligência bastante abaixo da média (a história passa-se na América, ainda por cima) consegue realizar o sonho americano: Tem tudo pago, passa o tempo a escalar (sempre com five.ten, claro está) e é seguido por uma data de gente que escuta religiosamente todas as barbaridades que o gajo diz. Há quem diga que esta é a história da vida do Chris Sharma.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

o Inverno dos frouxos

Chegou o Inverno do nosso descontentamento, tornado glorioso Verão por este filho de York.

Pimba! Aposto que não estavam à espera de entrar neste blog e apanhar com Shakespeare em cheio na tromba. Este blog está muito lá. E isto ainda não é nada. Esperem só até eu me lembrar de escrever um post em que relaciono o existencialismo segundo Heidegger com a escalada à frente.
A verdade é que este filho de York devia ser um frouxo... pois agora que a chuva veio para ficar, o frouxo tem mais uma razão para sorrir. Acabaram-se as desculpas. Não é preciso inventar uma lesão na unha do dedo mindinho ou num pêlo da sobrancelha. A rocha tá molhada, não há volta a dar, bute pró muro, antes que um gajo apanhe uma constipação.
A época invernal opera mudanças extremamente interessantes na fisiologia de um frouxo. Assim que este entra no muro, uma extraordinária mutação ocorre no seu corpo. Alguns efeitos são imediatos, como a recuperação da visão: O frouxo passa a ver as presas! Outras modificações também não se fazem esperar. Todas as lesões desaparecem como que por magia e o frouxo transforma-se num animal, capaz de realizar verdadeiros milagres sobre a pilha de colchões que se avoluma dois metros mais abaixo. Sem a escalada em rocha para atrapalhar os treinos, ganha força sessão após sessão e encadeia bloco atrás de bloco (desde que este tenha menos de sete movimentos, claro). O frouxo será o rei do Inverno, até vir o bom tempo, até as vias secarem, até as desculpas se esfarraparem, em suma, até surgir a ocasião em que o frouxo tenha uma daquelas cenas, vulgarmente conhecidas como expresses, debaixo dos pés…

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

a frouxidão do incentivo

Dois homens. Em tronco nú. Uma corda. Por entre os calhaus, ouvem-se frases soltas: "Vai, dá-lhe! Venga aí, vai com tudo! Com tudo!" Enquanto isso, um dos personagens cerra os dentes e vai soltando gemidos. O outro, claro, continua a incentivar: "Vai, aguenta só mais um pouco! Com força, agora! Venga!"
Já repararam que a escalada está a milímetros de distância de se parecer com um filme porno para gays? Já nos anos oitenta os melhores escaladores eram alemães. Desde esses tempos, é certo que tem havido uma evolução. Os calções estão mais compridos, já não são de licra, as cores da roupa são menos, enfim, fluorescentes... No entanto, agora incentivamo-nos uns aos outros em espanhol! Qualquer dia andamos a tratar-nos uns aos outros por baby e cariño e mainãoseiquê...
Basta! Chegou a hora de encararmos a escalada como um desporto de machos. Refiro-me a um desporto assim como o remo, em que os gajos andam a remar nas regatas enquanto um timoneiro os insulta. Proponho que, de hoje em diante, se insulte em vez de incentivar. Expressões como "anda, vamos, tu consegues!" não vão a lado nenhum, a não ser que se queira viver um momento de qualidade com o escalador. Daqui a pouco andamos a pedir "Sobe lá isso, amiguinho, por favor!". Porque não um "vá lá, sobe essa merda, mazé" ou "reglete o caralh*, isso é um bajolo"? Ou quando o gajo está no passo duro, que tal dizer-lhe "Vai, agarra essa merda, cabrão, estás aqui p’ra escalar ou p’ra gemer? Se queres gemer, vem cá para baixo que aqui o je dá-te uma razão para gemer!". Isto sim, é de homem.
É claro que zelar pela segurança do escalador continuará a ser fundamental. Nesses momentos, não é de descurar o papel do assegurador em fazer com que aquele não se preocupe em cair: "É na boa, se caíres aí não chegas ao chão… digo eu! Ai achas que vais ao chão? Olha que porra, então não caias! ...duh! Vá, sobe mazé essa cagada..."

terça-feira, 17 de outubro de 2006

o dilema do frouxo

terça-feira, 10 de outubro de 2006

a frouxidão das lesões

Gosto de ter lesões. Em primeiro lugar porque só os gajos fortes se lesionam. Se um gajo se lesiona é sinal que esteve a apertar. Nunca veremos a seguinte situação:

-Epá, lesionei-me.
-A sério? Como?
-Tava numa pinça má, subi o pé direito para uma caca e lancei à morte a mão direita para uma reglette. Quando a finquei, o pé esquerdo saltou.Tentei aguentar a porta e ouvi um estalido. Foi o dedo.
-Ui, que mau... isso foi aonde? No IV+ que estavas a experimentar noutro dia?
-Não, tás parvo? foi no V ao lado...

Em segundo lugar, uma lesão favorece de sobremaneira a escalada de um frouxo. Não só o impede de escalar - e sem escaladas não há quedas - como permite conjugar o tempo verbal preferido dos frouxos - o imperfeito do conjuntivo. Tal pode ser visto na frase "Se não fosse a reglete daquele 8a, dava-lhe um tiro à frente!" No entanto, outros tempos verbais podem figurar em outras bacoradas do género: "Aquele 9c não, tem um bidedo que aleija" ou "Aquele V18 tem um passo longo que me força o ombro".
Claro que estas particularidades de algumas vias não vão impedir um frouxo como nós de apertar à morte. Só temos de escolher vias duras sem regletes, bidedos, pinças minúsculas ou aplats manhosos. Nada mais fácil: Sempre existirão vias duras em continuidade, com crux em puxadores (perto uns dos outros, claro, para não magoar o ombro em passos longos). Chamam-se quartos graus.

Ah, já me esquecia. Era só para avisar que mais um bocadinho e este era o primeiro post sem uma referência ao Chris Sharma. Foi por pouco.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

a frouxidão das opiniões

Desde que este blog apareceu uma pergunta tem percorrido o espírito da comunidade escaladora internacional: Mas afinal quem é este parvo? E há quanto tempo permitiram o acesso à Internet nos hospitais psiquiátricos? E qual o impacto deste blogue na comunidade escaladora? E porque é que, a contar com esta, já vamos em quatro perguntas? Não era só uma? Para dar resposta a algumas destas questões falámos com alguns destacados membros da nossa comunidade e pedimos-lhes que dessem a sua opinião sobre o que acham deste blogue. Reparem nesta frase: "a sua opinião sobre o que acham deste blogue". Fenomenal, hã? Não é para todos. E, sinceramente, nenhum dos meus entrevistados esteve à altura. Uns deram-me uma opinião sobre o blogue, outros disseram-me o que achavam do mesmo. Nenhum foi capaz de me dar a sua opinião sobre o que achava deste blogue. Frouxos.
Dani Andrada, escalador de profissão, diz-nos, enquanto encadeia dois 8c’s ao mesmo tempo com apenas um braço, que leu o blogue e gostou muito. Já Bernabé Fernandez, pastor de cabras na Andaluzia, foi mais longe e ofereceu o seu contributo, uma vez que se considera o frouxo-mor: “joder, sólo encadeno una ruta en cada cinco años!” Chris Sharma, tocador de flauta, também leu o blogue e achou-o “fantástico” e “ainda mais duro que fazer o ‘witness the fitness’ depois de encadear a ‘realization’ ”. Talvez não seja disparatado presumir que tal acontece porque, segundo o próprio, “não percebo uma palavra de português a não ser ‘gracias’ ”.
De qualquer maneira, uma vez que o referido bloco está cotado de 8c+ e a via leva a cotação de 9a+ (ora oito mais nove são vinte, não, que disparate, são dezanove) parece-me legítimo cotar este blogue como um 19d+. E não se fala mais nisso.