sexta-feira, 20 de outubro de 2006

a frouxidão do incentivo

Dois homens. Em tronco nú. Uma corda. Por entre os calhaus, ouvem-se frases soltas: "Vai, dá-lhe! Venga aí, vai com tudo! Com tudo!" Enquanto isso, um dos personagens cerra os dentes e vai soltando gemidos. O outro, claro, continua a incentivar: "Vai, aguenta só mais um pouco! Com força, agora! Venga!"
Já repararam que a escalada está a milímetros de distância de se parecer com um filme porno para gays? Já nos anos oitenta os melhores escaladores eram alemães. Desde esses tempos, é certo que tem havido uma evolução. Os calções estão mais compridos, já não são de licra, as cores da roupa são menos, enfim, fluorescentes... No entanto, agora incentivamo-nos uns aos outros em espanhol! Qualquer dia andamos a tratar-nos uns aos outros por baby e cariño e mainãoseiquê...
Basta! Chegou a hora de encararmos a escalada como um desporto de machos. Refiro-me a um desporto assim como o remo, em que os gajos andam a remar nas regatas enquanto um timoneiro os insulta. Proponho que, de hoje em diante, se insulte em vez de incentivar. Expressões como "anda, vamos, tu consegues!" não vão a lado nenhum, a não ser que se queira viver um momento de qualidade com o escalador. Daqui a pouco andamos a pedir "Sobe lá isso, amiguinho, por favor!". Porque não um "vá lá, sobe essa merda, mazé" ou "reglete o caralh*, isso é um bajolo"? Ou quando o gajo está no passo duro, que tal dizer-lhe "Vai, agarra essa merda, cabrão, estás aqui p’ra escalar ou p’ra gemer? Se queres gemer, vem cá para baixo que aqui o je dá-te uma razão para gemer!". Isto sim, é de homem.
É claro que zelar pela segurança do escalador continuará a ser fundamental. Nesses momentos, não é de descurar o papel do assegurador em fazer com que aquele não se preocupe em cair: "É na boa, se caíres aí não chegas ao chão… digo eu! Ai achas que vais ao chão? Olha que porra, então não caias! ...duh! Vá, sobe mazé essa cagada..."

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