quinta-feira, 26 de outubro de 2006

é a cultura, frouxo!

Depois do meu último texto o meu e-mail foi inundado por centenas de missivas vindas de todos os cantos do planeta. Claro que a maior parte era a habitual publicidade às pílulas para alargar o nãoseiquê e para melhorar o desempenho no nãoseiquemais. O restante era pornografia não requisitada (e também alguma requisitada). Estranhamente, nenhum dos mails que recebi era relativo ao blog. Talvez seja por não ter publicado o endereço de e-mail no site… é capaz de ser por isso.
De qualquer das maneiras tenho a perfeita noção de que todos os que leram a minha posta anterior fizeram a mesma pergunta: “Mas afinal quem era esse Shakespeare?” Ora para elucidar as vossas mentes, e porque os escaladores não lêem nada que não sejam revistas de escalada (acabei de perder metade dos meus leitores) nem costumam ver filmes que não sejam sobre escalada (pronto, lá se vai a outra metade) resolvi tornar este blog um pouco mais cultural. O que se segue é um pequeno resumo de algumas obras que deixaram a sua marca na literatura ou no cinema.

Romeu e Julieta

Começamos com este clássico de Shakespeare que relata a história de dois grupos rivais que disputavam os encadeamentos mais duros na fenda: Os Capuleto e os Montesco. Sempre que um Capuleto equipava um oitavo, logo um Montesco o encadeava e descotava. E vice-versa. Um romance proibido nasce, no entanto, entre dois descandentes destas famílias rivais. Os amantes Romeu e Julieta, que fazem cordada (entre outras coisas mais ou menos badalhocas) e que juntos evoluem na escalada e no amor.
Um dia, Romeu parte uma presa que acerta em cheio na pinha de Tibaldo, primo de Julieta. Temendo envolverem-se num banho de sangue, os amantes elaboram um plano de fuga, mas tudo lhes corre mal. Julieta combina com Romeu na fenda e, enquanto espera, resolve solar a El Carallon. No entanto, no meio do desespero provocado pelo atraso injustificado do seu amante, esquece-se de levar os five.ten e cai na parte da placa porque o pé não ficou numa aderência. Romeu chega ao pé da sua amada, olha para os Quechua que ela tinha calçados e compreende de imediato o que se passou. Enrola um charro com haxe comprada no Martim Moniz e fuma até lhe saltarem os olhos. Mas vai-se a ver e a Julieta não estava morta, apenas tinha batido com a cabeça. Quando acorda e vê o seu amor, morto, com a beata ainda na ponta dos dedos, resolve matar-se também; ainda tentou fumar o resto do charro mas era só tabaco. Vai daí, pega na navalha que ele usava para cortar a corda e espeta-se com ela no coração. Por azar, a navalha era meia enferrujada e não cortava grande coisa mas a Julieta lá acaba por morrer de tétano.

Titanic

História de um bacano que aposta um bilhete de barco em como saca à vista uma via daquelas bem duras. O facto de o gajo ter lançado sem olhar para a presa escondida levanta grandes suspeitas, mas a verdade é que ele lá ganha a passagem para Kalymnos. Na viagem, conhece uma g’anda lasca (embora com tendência para engordar) que se quer atirar da popa (acho que a popa é a parte de trás do barco). Ele lá a agarra, convence-a que a vida vale a pena ser vivida, aquilo em Kalymnos é só chorreira, uma maravilha, toma lá uns five.ten, com isto ninguém te pára, tens é de fazer dieta que os pés de gato são bons mas não fazem milagres, bora lá cantar o “My Heart Will Go On” da Celine Dion na proa (que, portanto, será a parte da frente). Entretanto, a embarcação nunca há-de chegar a Kalymnos, pois choca com um iceberg que andava perdido mesmo no meio do Mediterrâneo. A gaja safa-se, o gajo quina.

O Padrinho

Filme sobre a família de Vito Corleone, um tipo que tem o monopólio dos rocódromos de Nova Iorque. Temido por uns e amado por outros, é a ele que os escaladores recorrem quando não sabem o que fazer. Para estes, sempre tem uma palavra amiga, umas dicas sobre como resolver o crux de uma via ou uma opinião sensata sobre uma cotação. Até que chega à cidade um turco que pede financiamento ao padrinho numas plaquetes inox para equipar umas placas que tinha micado nos arrabaldes da cidade. O padrinho recusa-se a ajudá-lo pois não quer ver as crianças do seu bairro a escalar em placa. Mas o filho, Sonny Corleone, mostra um certo interesse no negócio, pois tinha acabado de comprar uns five.ten e estava mortinho por curtir a aderência da cena no granito. Erro crasso, pois o turco tenta despachar Vito Corleone na esperança de negociar com o herdeiro directo, Sonny. No entanto, o esquema sai-lhe furado, pois o padrinho sobrevive. O esquema não é a única coisa a sair furada ao pobre turco: A implacável vingança de Michael Corleone, o benjamim da família, envolve um Hilti com uma broca de 10 mm, para granito, pronta a estrear.

Forrest Gump

História de um bacano que, apesar de ter uma inteligência bastante abaixo da média (a história passa-se na América, ainda por cima) consegue realizar o sonho americano: Tem tudo pago, passa o tempo a escalar (sempre com five.ten, claro está) e é seguido por uma data de gente que escuta religiosamente todas as barbaridades que o gajo diz. Há quem diga que esta é a história da vida do Chris Sharma.

6 comentários:

Rui disse...

sim senhor... gostei e quem escreve assim não é gago!!!!

ja agora tens o patrocinio da 5.10 ou és mais um fanatico da marca????

xau xau

frouxo disse...

caro hewaz:

enviei umas fotos minhas na "directa" (guia) à 5.10, mas não me aceitaram o patrocínio porque estava a escalar em top. pormenores...

chb disse...

Muito nice o texto... explica muita coisa!!! Bem que deviam falar contigo pra seres argumentista do 1º grande filme de escalada nacional... ;)

E vê lá se apertas mais...

Zé Maria disse...

Eu vinha aqui justamente para protestar contra essa insistência na Five.Ten. Que tal dares uma espreitadela em www.campgroundclimbing.com?
Cumprimentos.
ZM

Anónimo disse...

ei-los que surgem.
Funcionou.
... e bem!

frouxo disse...

caro zm:

acho deplorável usares um blog alheio para fazeres publicidade descarada a pés-de-gato... é quase tão mau como a publicidade descarada que faço à 5.10 no meu post.

caro pentanitrato de tetranitrito:

quê?