quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Publicidade frouxa de outrora...


Não sei bem o que os franceses vendilhões de perfumes queriam dizer com isso de ser "a primeira" ... a fazer um oitavo? a escalar em livre e no dia a "Nose"?
... no contexto da imagem a corda parece ser o símbolo mais insignificante...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Laura Frôxa & Marta Xorona, em grandes embrulhos com Paulo fRoxo





img expropriada de rppd.blogspot




Este ano, fomos mandatadas pelo Pai NatAl-pinista para fazer a triagem dos pedidos dos meninos escaladores e também para ajudar na embalagem, por medida, das correspondentes prendas.
Para esta árdua tarefa dedicamos um longo e ameno serão com um voluntário incauto, litólatra como poucos, com quem inventamos uma elucidante conversa, aqui partilhada com todos, (em especial com as nossas fiéis e interessadas leitoras, e já vão ver porquê…).
Fizemo-lo antes que ele fosse tomado pela melancolia da quadra e se tornasse epistoleiro como parece ocorrer por estes épocas na Terra dos Coelhos [1,2,3].


Paulo fRoxo dispensa delongas em apresentações acrescentamos apenas o que não consta nos curricula. Ainda que a alguns possa suscitar desconfortos, a realidade é que o próprio se tornou num biótopo da escalada em rocha e uma parte significativa da escalada vive quando Paulo Roxo se mexe.
Detém, desde há muito, a cátedra da moderna litologia na Universidade da Ponta-da-corda e os Politécnicos da escalada, sequiosos e ávidos, arrebanham-lhe os escritos ainda mal arrefeceu a SDS na sua litoteca.

As vastas hordas de visitantes do Escalagem reclamam porque é que não são eles contemplados pelo brilho das luzes da ribalta com uma entrevista neste estaminé. (bem vistas as coisas, talvez não tenham sido assim tantos a reclamar, mas talvez e apenas o mesmo pérfido votador-compulsivo-apagador-de-cookies que vota por todos os abstencionistas do Alto de São João).
A resposta é simples.
Neste blog, o grau está ajustado, e é tipo “bué-à-morte”, não há gavetões para agarrar. Connosco não há cá cocós: à 2ª tentativa ainda vamos em top.
Além disso, Paulo fRoxo, mantém, ao contrário de algumas intocáveis altas-autoridades-para-a-escalada-em-rocha, juntamente com a sua esquadrilha, mantém um terminal de distribuição do “banco-alimentar-contra-a-fome-de-rocha” muito rico e variado, onde destacamos as inúmeras imagens de trepadores com a corda à frente do nariz, onde agarrar expressos e pisar plaquetes não está assim tão mal visto (o que apraz duma maneira muito especial ao colectivo do Escalagem).


Convidámo-lo para desvendar alguns dos velhos tacos ainda entalados nas interrogantes do futuro e pô-los na nossa crepitante lareira, só pelo prazer de ver este Torquemada da ruminância desportex a torrar Jocundas do nosso tempo, no aconchego da lareira.

Laura Frôxa: Paulo, bem-vindo a este estaminé (Marta! Já viste que o casaco dele é de Glory-Tex?)
Marta Xorona: Entra! Entra! Autosegura-te e fica à vontade!
Paulo fRoxo (PfR): …Recebi uma chamada de que precisavam aqui dum técnico de trabalhos em altura para por a estrela no pinheiro de Natal. Onde está?

Laura F: Esquece isso. Já conseguimos . Vamos ao que interessa!
Marta X: temos aqui um trabalhinho em mãos e tu vais ajudar-nos.
PfR: Humm. Aviso já que duvido muito desta ideia de entrevistar as pessoas sem o seu conhecimento…

Laura F: Vamos só abrir aqui umas destas cartinhas dos meninos escaladores portugueses…
Marta X: … em são convívio… não te preocupes que nada do que vai ser registado é de fiar.
PfR: Bom. Então prometo dizer pouca verdade e nada que seja verdade!

Laura F: E o Alpinismo como vai?
PfR: Bem. Obrigado por perguntarem.

Marta X: (Engraçadinho…)
Laura F: Directos ao assunto: Eiger. Quantas vias de homenagem às tentativas ainda vamos ter?
PfR: Seria bom sinal que mais nenhuma. (Hehehe!) Neste momento já pesam um pouco as frustrações das passadas tentativas. Por mais desmoralizador que se tenha tornado não me faltam objectivos e ambições noutras paredes. A maior agravante das tentativas é todo o esforço na reunião dos meios que se vê uma e outra vez gorada. E esta é realmente a parte mais desgastante. A Norte do Eiger continua na lista. Talvez um dia.


Marta X: E a rocha? Afinal está a acabar o terreno virgem ou não?
Laura F: …e o que resta para as gerações futuras?
PfR: Temos aberto vias em muitos locais diferentes deste país. É certo que em algum tempo as linhas mais óbvias e atractivas serão desvendadas como já foram desvendadas as vias mais clássicas das apreciadas falésias desportivas e restarão outras mais”rebuscadas”. Seja pelas minhas mãos ou pelas mãos de outros escaladores. Preocupa-me deixar um legado que se relacione tanto quanto possível com a qualidade. Há ainda algum terreno. Tudo requer motivação e visão. A motivação suficiente para ir um pouco mais longe e descobrir essas linhas que aparentam ser pouco promissoras.

Laura F: Acreditas que essa “visão” e criatividade tem limites ou “tudo o que é rocha e não mexe” admite uma via?
PfR: Com alguma certeza há linhas mais agradáveis de abrir e repetir do que outras. Quanto a mim sempre tenho empregado uma boa dose de imaginação e isto tem-me resultado bem. Muitas vezes ainda me consigo surpreender com a quantidade e diversidade de largos duma qualidade excepcional que se me vão deparando. Se bem que, também é verdade que algumas vezes entre excelentes largos, tenho atravessado terreno que só por si não traz grande mais–valia e afastará, seguramente, os repetidores. Estou convencido de que não se poderá abrir indefinidamente uma amálgama de linhas sobrepostas, entrecruzadas e acotoveladas entre si sem perder muita da qualidade que ainda me vai mantendo neste País.

Marta X: Vamos começando a abrir algumas cartas para vermos o que pedem os nossos pequenos escaladores. Vamos lá começar por esta esta “Caro Pai Natal eu sou o Leopolvo, blablablablá, … e sinto dificuldade em agarrar aquelas…. assim pequeninas, mitradas … queria mais força!... para regletinhas … mais força…tipo reglete mitrada… de agarrar assim… queria mais força para vincar assim!… mais força… e mais força de dedos… arquear… assim!...
Laura f: Pois… é mesmo isso que lhe faz falta...
PfR: É de conceder! Claro! … tipo… placebo.

Marta X: Vale a pena esta corrida por estas paredes que fogem muitas vezes ao estereotipo do bigwall de rocha limpinha e cortada à faca das Reginas e Montrebeis, etc?
PfR: Na maior parte das vezes vale. Apesar de tudo, também eu prefiro uma boa rocha compacta e de preferência que se possa superar da forma mais “livre” possível. Mas não houver outra forma razoável de passar sem expansões, a máquina avança.

Laura F: essa tua ideia leva-nos a outra questão: Os bocados de corda são reunião?
Marta X: … e os largos de burilada tem interesse ou são alguma forma de recuo no estilo de escalar?
PfR: Na minha opinião e na forma como aceito os riscos próprios da escalada, os bocados de corda são melhores que nada. Durante a abertura de uma via, vindo de baixo com um equipamento já de si muito pesado, ainda carregar com boas correntes de reuniões, para vias que por vezes têm 4, 5 6 largos é simplesmente surreal. Em posteriores repetições admito que as reuniões venham a ser sempre melhoradas e creio que tenho feito imagem de marca da qualidade das protecções fixas que coloco, na absoluta maioria das minhas vias. Quanto às buriladas, não me orgulho muito delas. Acabam por ser as transições possíveis entre largos de maior interesse caso contrário mais valia abandonar o projecto.

Laura F: Vamos abrir outra carta: “Querido Pai Natal… dáh!-dáh!-dáh!, sou o Nuninho… Sei que não deves estar muito contente comigo este ano… Não foi por mal… Qualquer pessoa se engana! Tu também dizes que as tuas renas são renas mesmo a sério, mas vê-se bem que são muito mais pequenas do que as renas… e até já estive a falar com Filipe e estamos de acordo de que são apenas cabritos e tal... Portantos, … o outro já se partiu… e queria um novo… 36 volts… dáh!-dáh!…
PfR: O que ele quer sei eu!... Concedido… uma aparafusadeira do Lidl e uma tabela de conversão de graus… vá! Embrulha aí!

Marta X: Nos teus escritos e na dos teus cordadas habituais transparece uma intensidade emocional de envolvimento nos empreendimentos pouco comum. Passo a transcrever um excerto escrito por um teu comparsa habitual (MG), diz ele: "muitas destas questões povoam subtilmente profundos recantos do meu pensamento em noites plenas de estrelas que brilham reluzentemente no escuro céu, mas submerso numa gigantesca tormenta de confusas explicações sem sentido em longas horas de insónias. (...) tanto tempo perdido, retirado involuntariamente das doces e agradáveis horas de sono. (…) uma grandiosa parede numa horrivelmente bela montanha sobre a qual um involuntário desejo leva-nos numa busca do infinito desconhecido (...)”…Vocês estão a ficar “sensíveis” do género… tipo… sensível?
PfR: Vou alertar o meu companheiro para os riscos dessa “sensibilidade”. Para explicar um tal nível de envolvimento e a forma como é expresso depois, é preciso perceber que estamos muitas vezes em terreno novo ou muito pouco frequentado. O grau de incertezas é alto e tem de ser vencido por nós em condições em que recuar não é possível nem fácil. Este compromisso cria laços entre as pessoas que se vêem consortes para o melhor e para o pior. É a própria vida que está em causa. Ao concluir certas empresas, com tanto sacrifício e esforço, momentos tensos, … expostos a tudo quanto a natureza nos atira… quando finalmente acaba, sentimo-nos como dois desgastados guerreiros das rochas, que jazem sobre a imensa parede, após uma épica campanha, prostramo-nos, com os braços estreitamente envoltos um no outro duma forma que demonstra claramente a nossa amizade, mas que deixa, também, muito claro que não somos rabetas.

Laura F: Bem... é melhor lermos mais uma carta: “Querido Pai Natal… nhá-nhá-nhánhá… sou menina… e porque sou menina… encadear “tipo-bué-à-muerte”… bué oitavos inumanos… daqueles com buzonacos inumanos… nhánhá-nhánhá… e porque sou menina… buzonacos!"
PfR: Hummm…!
Marta X: Espera! Ainda continua atrás… - “…dá-dáhn… buzonacos… sou menina… e ficar inumana para encadear… e achas que não tenho t’mates para sacar?... Achas?!... e nhá-nhá!...”
PfR: Epá!... Epá! Está bem. Concedido! … mas só porque é menina!

Marta X: Vamos passar a outro assunto. Os escaladores Portugueses. Como são? Uma comunidade real com consciência do bem comum ou um mero incidente de convergência de gostos desportivos?...
PfR: Pergunta difícil porque não é possível compor um retrato claro. Está mais que provado que somos capazes de criar e crescer pela expansão do número de praticantes, pelas alterações que os praticantes fazem na sua vida uma vez comprometidos com a escalada, e acima de tudo pela óbvia exploração e frequentação dos espaços de escalada. Mesmo sem grandes apoios estruturais. E isto é da sua identidade. Quanto à capacidade de concertação para maiores propósitos do interesse comum já guardo maiores dúvidas se não mesmo, descrença.

Laura F: Como vês o ambiente entre os praticantes? Como somos? Dividimo-nos entre os altaneiros e os culambistas ou temos outras classificações possíveis?
PfR: Há-de haver muitas interpretações. Nos últimos anos tem havido mais comunicação entre os escaladores. Se estes coincidem ser também agentes activos no que se passa nas fragas por esse país fora só há que reconhecer quando fazem bem, elogiar se sentimos satisfação no seu trabalho e, por outro lado, manter a cordialidade quando há potenciais focos de mal-entendidos. Participar nas conversas da tasca, na falésia, nos blogs e nos fóruns não tem porque ser um exercício de culambismo. Isso seria quase equivalente a afirmar que os que não participam em nenhuma ou qualquer uma dessas formas seria um modelo de carácter.

Marta X: E mais uma cartinha. Eia! Olha esta!... O que isto?! Parece que foi escrito a gritar…!
PAI NATAAAL. VELHOTE! COMO É QU’É?!!! OLHA!… QUERO ISTO… ASSIM-ASSIM! … REVALIDAR O TÍTULO!… E OS MEUS AMIGOS DE LONGA DATA… O DANII… E ENCADEAR COM O DANI …ÃNH!?... VISTE COMO EU FIZ AQUELE PASSE… ÃHN?!... VISTE? OLHA! OLHA!! ESTIQUEI ASSIM… ÓOLHA! AGARREI A AOUTRA COM A DIREITA… ASSIM! OLHA! ÓOLHA!... OUVE! AQUILO É SÓ APERTAR ASSIM COM ESTE DEDO… COM ESTE DEDO! TENS DE FAZER COMO EU ESTOU-TA DIZER!... ESCUTA!... OLHA!... É SÓ…
PfR: Fecha!
Laura F: … E quê?
PfR: Fecha! Fecha!
Marta X: Mas e então?...
PfR: Concedido! Concedido! … Mas põe aí uma cruzinha qualquer dessas, da parte de trás do envelope…

Laura F: Vamos agora falar um pouco do passado. Já lá vão mais de vinte anos na vertical. Queres contar-nos algumas das recordações mais marcantes dos primeiros tempos?
PfR: Não. Mas visto que não posso impedir-vos de continuar a pôr-me a dizer barbaridades, vou apenas repassar algumas sensações difíceis de explicar e transmitir nos dias de hoje, lembro-me por exemplo da escassez de material ser tão grande como a ilusão que nos movia pelas muralhas do Castelo de São Jorge, o nosso Alvaláxia da altura. As vias de aderência com as Sanjo nos pés. A corda do António que servia para todas as cordadas da época da zona de Lisboa. O entusiasmo de ler as raras revistas de escalada que nos vinham parar às mãos. O nervoso miudinho e a excitação de ir ao desconhecido nas primeiras viagens para fora do país. Até os catálogos de material nos fascinavam… e o filme marcante do Patrick Edlingerie.. “a vida na ponta dedos”... Nessa época não havia vengas era só allez doucement!... Tem o seu quê de saudoso.

Marta X: Vamos então ver extractos de um desse vídeo histórico para tentar perceber o espírito que se vivia na vossa geração.





PfR: Bem… isto está um pouco retalhado do original… e não mostra muito…

Laura F: Não mostra muito! Havia mais??
Marta X: Vamos ver agora com mais precisão o excerto fulcral para perceber qual a sua influência na evolução dos escaladores em Portugal .




PfR: Ora! O Edlingerie era apenas um dos considerados melhores escaladores da época. O estilo, a ideais novos, exerceu algum fascínio mas nota-se que são apenas segmentos do filme…

Laura F: Sem rodeios… Para os leitores que estão lá em casa, uma resposta sincera… de que modo estas imagens influenciaram a escalada neste país?
PfR: Ora… são obviamente imagens históricas, assim sem o enquadramento das sequências está tudo um pouco fora…

Laura F: … Um pouco fora? Eu diria que está tudo fora!
PfR: Bem…
Marta X: … Sentiam-se atraídos por ele??
PfR: Vamos antes ver mais esta carta… “Pai Natal, sou o X, e eles aqui no bairro, curtem de ti à brava, ... e blábláblá… tu lembras-te de … daquela vez, eu a embrulharzlias com as tuas barbas? Hân!... E tu a paparzlias… já ‘tavas um bocado mamado?! Um bocado é favor!... hréeh! ... Eu, neste Natal só te queria pedir uma papôlha. Só uma papôlha. O resto eu oriento-me. A outra cena que a gente cominô, aquilo p'ó fim-de-semana! … bla-bla-blá! … e um gândasabão. Se houver espiga… pões dentro de um preservativo no fundo do teu saco, que eles não vão lá ver… gandasabão!...
Marta X: Laura. Não percebi nada!...
PfR: UoU! Isto deve ser dâ-malta-du-Bârrei…! Concedido!

O Serão continuou com a abertura de mais umas quantas cartas e outras revelações escandalosas oportunamente se ocultam.

LF&MX: Despedimo-nos então, com os votos de um bom Natal e um ano de 2008 muito feliz. Paulo queres aproveitar para enviar um abraço aos teus amigos e leitores?
PfR: Desejo a todas umas boas festas e com tudo o que desejam para o próximo ano. Quanto ao abraço… ok… mas sem demasiadas mariquices. O ar tem de poder circular livremente entre nós…