If the routes stayed the same, but the gradings were suddenly all switched around, it would be interesting to see which routes people would be trying.
Jim Holloway
Cá está. Não é só o LA que sabe fazer citações. Eu também sei. E esta é muito boa. Por acaso gamei esta dele. As citações demonstram que um gajo é inteligente. Que tem cultura geral. Para quem não sabe, a cultura geral mede-se pela quantidade de citações que um tipo diz por dia.
O problema é que, normalmente, quando se usa uma citação, é suposto o texto não ter nada a ver com a dita. O propósito da mesma é o de ganhar uma discussão, ou seja, arrumar com o outro gajo, qu’ele até fica a pensar “ena pá, com essa é que me lixaste”. E se a citação nada tiver a ver com o assunto em causa, melhor ainda, que é da maneira que o deixamos ainda mais confuso. Por exemplo, esta foi gamada de um texto sobre aves. Já na altura não percebi o que tinha a ver. Se calhar as aves só vão a uma via por causa do grau. Será que as aves mais fortes só nidificam em oitavos?
Acontece que a citação em causa até tem a ver com este post, mais concretamente com o prestígio. Às vezes, parece que as vias têm dois graus: um de dificuldade e outro de prestígio. Curiosamente, o de prestígio é sempre igual ou superior ao de dificuldade. Nunca é inferior. A não ser que a via seja de placa. Não há nada mais baixo que o grau de prestígio de uma placa. Melhor dizendo, não existe nada que arruíne mais a reputação de um indivíduo que fazer uma via de placa. Quer encadeie um 8a de placa, quer caia num 6a de placa. Que, no fundo, acaba por ser o mesmo.
O grau de prestígio é tão importante que chega a afectar a própria qualidade da via. Se esta for um 7a, assim pró fácil, a via é um espectáculo, fácil de sacar, só presa grande. Se alguém decide gritar “o rei vai nú” e decota a via, esta passa de imediato para um 6c+ merdoso, passo mitrado sem jeito nenhum. Por isso é que as vias lá fora são boas. O grau de prestígio é enorme e o encadeamento à vista chove como cães e gatos. Tudo a experimentar aquela via dura mas boa, só porque no croqui vem um número porreiro:
- Ouve lá, é mesmo 7a?
- Sim, é 7a, presa grande, pouco inclinada, fácil de sacar à vista, é boa para ti.
- Mas é 7a?
- Sim, é.
- Mais duro que um 6c+?
- Eh pá, isso já não sei, se calhar não. Fiz à segunda. E nunca fiz sequer 6c+ à segunda. Aliás, acho que nunca fiz 6c+... Mas diz neste croqui com pelo menos 20 anos que é 7a, e o croqui não falha.
- Ah, bom, então vou lá!!
Ora eu acho que devia ser justamente o contrário. Tipo,
- Lá vai o fulano de tal, aquele gajo que fez agora um oitavo.
- A sério? Não dava nada por ele. Alguém o viu a fazer o oitavo?
- Vi-o eu a sacar aquele 6b manhoso à vista.
- Fosga-se, é mesmo forte!! Respect!!
Acrescento que acho até extraordinário como a malta se orienta tão bem a chamar as vias pelo grau (normalmente o de prestígio, claro). O nome, obviamente, é um mero acessório. Inclusivamente, até parece que houve aí uma polémica com um gajo que partiu umas pedras coladas na base das vias, com o nome das mesmas. Devo dizer que sou contra as pedras com nome na base das vias. Para quê o nome? Assim as pedras não dispensam o croqui! Quem lê o nome da via na sua base fica sem saber o mais importante, que é, obviamente, o grau. Por isso, acho que se deveria pôr apenas o grau na base das vias. Ocupa muito menos espaço, logo o impacto visual é menor. Para que interessa o nome? Se se falar no nome de uma via, ninguém sabe onde fica. Já pelo grau, toda a gente vai lá. E se for a puxar para cima, então é uma verdade absoluta e intocável. Mesmo que se faça a via com pegue e meio, apesar de nunca se ter feito aquele grau na vida. Mas se a via só sair ao vigésimo, a coisa pia mais fino, “qu’eu já fiz este grau à vista”. Não pode ser. Esqueçamo-nos que isto é uma rocha nova, um estilo novo, uma técnica nova, uma via nova (i.e. sem pinta de magnésio) e subamos o grau, “qu’eu não tou aqui para me rebentar em 6b’s”. Ou então, cagamos d’alto na via e vamos para aquele 7a vertical com presa à mão cheia de meio em meio metro.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
o aumento de frouxidão e a inflação do prestígio das vias: um estudo comparativo
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